quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Oração (de malungo pra menina).

Sou teu devoto
Teu fiel adorador
Oh, menina santa querida
Da pele cor-de-pêssego
Mãe dos filhos que nunca quis ter
Avó dos netos que nunca virão
Quem sabe um dia eu seja como tu
Nobre de coração
E facínora no perdão

Faz amor comigo
Menina santa, minha querida
Diz mais uma vez
Que meu sexo saciou a tua fome
E que nada é mais verdade
Que meu sorriso atoa
Seguido de um beijo roubado
Mesclado de desejo e pudor

Te prometo lealdade, menina
Aquela que nunca tive para comigo mesmo
Te prometo me entregar
Oh santa divina
De corpo e espírito
Sendo eu mesmo sempre que possível
Mesmo não sabendo
Nem quem sou ou quando ser.

Tenha paciência!
Minha castidade é tua
Fruto da desordem
Faça o que quiser com ela!
Meu voto de pobreza
É pretexto pra dividir a simplicidade da vida com você
Dividir tudo que é belo e casual
E contar as moedas pra pagar a cerveja
Num domingo Natal
Eu às de cinco, você às de dez.
De forma erudita e despojada
Tudo bem natural

Tua oração
 Farei todas as noites ao me deitar
Oh, minha querida
Sentindo na boca o teu gosto
E deleitando-se de nós
Pra poder sonhar
E ao acordar, te ver entregue
Dormindo em meus braços
Sem se preocupar
Se um dia a nossa luz vir a se apagar.

Fala e diz.

Pobre do eu.../ Mal consegue dizer!/ Não diz, não escreve/ Se não escreve, não pensa/ Na onda que passa e leva a leveza/ Com ela, a alegria em par/ A vontade de sorrir, longe vai/ Leva também a pureza/ Dos últimos dias, fica a dor/ Só ela, com ela mesma e eu/ Deixa o nós no singular/ Já que o plural do eu dói e machuca/ Cada vez mais, aumentando a dor/ Que nenhum labor/ Sequer um dia, poderá curar/ Pobre do eu.../ Mal consegue dizer/ Que nada importa ser só meu/ Sem antes ser todo seu/ Assim como já é.

Dois tempos

Quão diferente seria/ Se fossemos por fora/ O que realmente somos por dentro/ Será que alguém entenderia?/ Se não, deixemos de lado os outros/ O que importa somos nós/ Vivamos então, eu, você e a sua voz/ A nossa maneira/ Pois sou todo interior./ Não é todo sol que acorda disposto/ E nem toda lua se deita na cama/ Será o céu pequeno demais para esses dois astros?/ Nosso tempo se assemelha/ E existe na reciprocidade/ Não se dissolve nas águas mundanas/ Vivamos então, eu, você e a minha voz/ A nossa maneira/ Pois você é toda interior./ Quantas folhas o calendário já não virou?/ E os verões, quantos deles ainda terão de passar?/ E nesse tempo, surgiu um novo templo/ Era o nosso templo, e tinha como tempo, nós dois./ Por mais distancia que havia entre os tempos./ Diferente de tudo que aconteceu naquela noite/ Pela madrugada a fora, nas ruas da cidade, pelos bares do centro.../ Foi diferente, pois nada se compara, muito menos se comprara.

(Re) volta e fica!



O ranger da porta velha ao entrar...

“Amor é revolução
Derrubando a ditadura da solidão”

Sobre a mesa, maço de cigarro e cinzeiro
Latas amassadas de cerveja
Tudo em meio à desordem que os textos e livros marxistas causam
Junto com os poemas de própria autoria
Os quais recitei baixinho no pé do seu ouvido
Enquanto tomávamos vinho argentino
E falávamos sobre Che, sobre 68, sobre a França.

 Olhar fixo, sorriso simpático e sincero
Um beijo molhado pra deitar, pra me acalmar
Naquele instante, éramos um uníssono.
Não havia diferença sequer no tempo.
Não havia passado ou futuro: só o presente!
Um entrelaçado de corpos em sintonia rítmica
Movimentos prazerosamente uniformes, consentidos
Tanto corpo, quanto mente, alma, espírito e coração
Todos embalados por uma mesma canção
Madrugada à dentro.


Enfim, a luz deu sua graça
O sol da manhã iluminando o escuro do quarto
O vento fresco e tímido passeando por nós
Da janela entreaberta até a fresta por debaixo da porta
Espalhando teu cheiro doce por toda casa
Cama desarrumada, roupas espalhadas pelo chão
É sinal que céu desceu aqui noite passada
Para que os anjos pudessem nos saudar.

“A beleza não está nos olhos de quem à enxerga
Ela está toda em você!
Mas o que será isso, mulher?
É a carinha do amor pintando, meu homem!”

A porta velha range outra vez...
Só que agora é pra se despedir.
Que pena, que pena.

Há quanto tempo (eu gosto de você!)?

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Da série: É verão ou é inverno?
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Há quanto tempo até me tornar na sua vida
Mais uma daquelas estórias do passado
De paixões mal vividas, romances mal acabados?
Apenas um casal entediado com a rotina de ficar.

Quanto tempo mais? Quanto tempo menos?
Não é medo, só quero levar algo real disso tudo
Uma resposta mesmo que parcial ou no escuro
Quanto tempo mais dura o amor? Eu não sei.

Já te falaram que é loucura, só agora percebi
É diferente sim, mas foi o que aconteceu
Nessas tardes de verão o amor vai vem todo hora
Logo ele passe por aqui de volta, e não demora.

De uma meia volta de uma vez, mas leve meu pensamento!
Eu sei, cidade grande é cheia de contratempos
Carros, lojas, pessoas. Todos disputando um espaço
Assim como eu disputo no seu coração.

Suas amigas dizem a verdade, é por carinho
Que arrisca o tempo em troca do colinho meu
Pra que a confusão? Deixe-a de lado meu bem
Fica aqui, que você fica bem e eu também.

Minha fé, meu crédito.

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Da série: classe-(i)média(tista)
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A fé e o crédito
Combustível da humanidade
Invisível a olho nú
Inerente à realidade
E irreverente sua versatilidade

Comumente à qualquer lugar
Pra seguir a massa amontoada
Duramente amansada
Em pura e singela gratidão
Pela generosidade

A fé no crédito
A fertilidade do crediário
Pro esfomeado, pro ex-presidiário
Na certeza de uma vida
A vida que segue, que cega e seca

De pé, oh vítimas fluidas e inconscientes!
De uma sociedade líquido-moderna
Passível de enganação
Mas nunca de indignação.
Nunca.

Vai, segue a massa amansada
Já seca, flácida e (desa)creditada
Amontoada em iguais febris
Numa fé que segue errante
Até o segundo seguinte
Até um segundo instante

E continua seguindo...
Seguindo...
E seguindo.

Garota garoa

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Dá série: São as águas de verão
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“Chove Chuva
Chove sem parar...”


Sua boca fez chover meus olhos
Quando tremula disse adeus
Fez cair o céu da nuvem
Fez transbordar o chão meu

O silêncio ecoou baixinho
No vazio imenso da solidão
Que num instante havia inundado
Ainda que segura pela mão

Meu chover fez florir seus lábios
Que manhoso me pedia atenção
Fez molhar água da chuva
Fez nascer o que era bom.

O sentimento brotou sozinho
Feito semente morna em algodão
Que estende suas raízes
E faz mover um coração.


“Que é muito lindo, é mais que o infinito
É puro e belo, inocente como a flor.”

O Pedaço pesado da fé

Serei eu, capingado por tal feito?
Um nobre, puro e sincero como deus quis?
De ser nobre, não me culpo
Pois modéstia é sina de desgraçado
Outrora fui me, hoje não.
Se sou consagrado, é por ter sido antes bem açoitado.



Não mais quero ser perdoado
Nem tampouco serei castigado por descendência
Pede clemência pro teu deus e ora por teu pecado
Que ninguém passará livre, desaperebido
nem desavisado.



Eu? Não! Teu deus não me é digno
Faltaria lhe muita coragem pra padecer-me daqui
Bom senso e boa reza o acolherá
Pois eu sou o próprio deus vivo
Quando não o próprio diabo
de pés descalços caminhado por sobre terra

Credes agora no que digo?
Vedes agora o que falo?

Meu caro!

Ser me, foi suficientemente redundante.
Paradoxal, quando não me for verdadeiro!

Quem há de coagir tal afano indissolúvel?

Nem teu deus.
Nem eu.
Nem ninguém.

Medo de quê?

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Da série: Eu?
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Já me disseram que o medo mora perto das ideias loucas.

Eu discordo.
Prefiro que seu único vizinho seja a coragem!

Não gosto de medo por que não o tenho.
E não o tenho, porque não gosto de ter.
É assim mesmo: simples, prático e direto!

A vida é movimento, é continuidade
É uma viajem sem parada até o destino final

Não quero desperdiçar tempo com prevaricações fúteis

Além do mais, dizei-me como é teu Deus que te direi quem tu és.
O meu Deus quer abraçar o mundo, porque este mesmo mundo sente fome!
E é por isso que não tem tempo pra sentir medo.

Olhar Acústico

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Da série: Nosso Ciclo Básico
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Ela me disse, simples assim.
É o que todo garoto sonha ouvir
Mas não tem sequer coragem pra dizer.
Ela teve, ela tem.

Ela o fez com a calma e beleza que só ela é dona
Ali sentada, olhando nos meus olhos...
Colocou da boca pra fora o que nasceu no coração

Disse sem esperar nada em troca(?)
Eu é que não pude encara-la nos olhos
Não sou digno e nem mereço aquele encanto!

Sim, ela foi sincera em pular de cima do muro
Eu não pulei: eu tenho medo do chão.
Aqui de cima eu vejo mais, sonho mais...
Sofro mais...
E vivo menos.

O que eu não pude dizer, talvez nem saiba.
O que sei é apenas o sentir...
Sentir e calar.
E calar.
E calar.

Digo e me contradigo

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Da série: E o amanhã?
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Me delicio na angústia do mal-estar só
Por caminhos alternativos e formas não-burocráticos de existir.
É desesperadora essa liberdade integral que me cerca
Mas assento o pensamento, e deixo fluir.

Autonomia, auto-suficiência ou um automóvel?
Depender de algo nunca foi de bom grado.
Ser solto, uma peça descolada desse todo tão pequeno
Embriagado na ilusão de que é impossível viver só.

Eu desmitifico o óbvio e ponho a culpa na inocência,
Dada a solidez da duvida e a certeza líquida da verdade
Dissolvida em interesses mesquinhos de terceiros que chegaram primeiro.

Então, solidifico a solidão póvoa dentro de mim.
Quebro a barreira mental quando profano a castidade
E mantenho puro meus pensamentos heráldicos e inoportunos.

Serei refém da contradição, da liberdade e da solidão.

Até que o tempo interfira.
Até que chegue o verão.

Bem Vinda

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Da série: Músicas para o meu bem
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Aiai, olha só.
Aiai...

Pois bem
Então ficamos assim
Juntinhos? Aiai...

Meu bem
Todo tempo do mundo
Não é em vão, aiai...

Sei bem
O sentimento nosso
Saudade, aiai...

Veja bem
De que vale a diferença?
É paixão! Aiai...

Pois bem, neném
Não é de todo mal bem me quer
Não é de todo bem solidão
Aiai...

E eu bem sei
Faz tempo, veja bem
Que eu te quero
Meu bem

Sonho Médio(cre)

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Da série: "Mentalidade de plástico e uma imagem a zelar"
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Preciso de um bom emprego
Onde eu seja reconhecido pelo que faço e me orgulhe disso.
Preciso de boas roupas
Que me deixem com uma aparência sociável quando as uso.
Preciso de um carro veloz
Para nunca mais me atrasar ou passar despercebido.

E preciso ser sincero comigo...

Preciso de muitos amigos
Para nunca mais me sentir sozinho e desprezado.
Preciso de uma linda mulher
Que saiba cozinhar e tratar bem dos meus três filhos.
Preciso que um desses filhos seja adotado
Para cumprir meu papel enquanto cidadão.

E preciso ser sincero comigo...

Preciso de uma casa grande
Onde caibam todos meus sonhos e os meus desejos.
Preciso não me perder por aí
Mantendo os pés no chão e tendo algo em que acreditar.

E preciso ser sincero comigo...

Fazendo de mim o que as pessoas querem que eu seja.
Mesmo que seja apenas por aparência.

Conversa em conserva

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Da série: O Verão Logo Chega
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Hey garoto, aonde vai com essa pressa?
Porque essa ânsia pelo tempo?
Ele caminha, anda, e não corre nunca não.
E você ai, invertendo a direção
Senta e espera, pois agente logo muda.

Talvez eu me apresse um pouco
Mas é pra chegar antes, e em primeiro.
Garantir meu lugar ali, ao sol...
Pra sentir algo de bom no verão
Calor, é o que mais espero.

Que vontade boba é essa?
Nem tudo se resolve com o calor do verão
O sol arde, queima a pele, machuca.
A chuva é caos, horror, destruição
Inunda a ordem, afoga tudo que é razão.

Não é vontade não, é desejo!
É o tal do sentimento, conhece?
É a vida gritando por espaço e atenção
Coração com pé na porta do peito
Sonho, saudade, verdade, beleza, ela.

Que tal aprender sobre a vida?
Sobre o mundo real, trabalho, dinheiro.
Sobre a maldade insípida nas pessoas.
Sobre a feiura do divórcio, separação!
Sobre a solidão, porque não?

E porque não sobre a inocência?
Sobre indecência, felicidade, paixão.
Sobre o verão, sim! Porque não?!
É calor, é sol. Chuva vem pra refrescar.
Se inunda, é só a ordem, pode levar.
E quem agente gosta, devemos conservar.

Nem tudo é tão fácil, meu jovem
Um dia você aprende...

Nem tudo é impossível, meu velho
Isso eu te provo!
Mas espera o verão chegar...

Réquiem

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Da Série: O Verão logo chega
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Voltarei só por um instante
Quero me lembrar
É esse o nosso tempo?
Ressuscitarei toda uma noite viva
Nessa minha alma morta pela saudade
Tornarei belo e simples o andar

Em um extenso caminho.
O nosso caminho.

Daquela noite trarei teu sorriso
Pra que não te perca por ai
Sozinha, em luto.
Quero-te no presente, não só no passado.
Se for pra te perder, perca-te em mim
Sorrindo e sussurrando baixinho

Em um eterno momento
O nosso momento


Ontem vale mais que o agora
Vale meu sonho, vale toda uma vida...
Mas não se deixe por lá ficar
Pois foi no teu canto que me confortei.
Contarei a todos os amantes
E será pelo desejo que farão todas as noites

Em um mesmo lugar
O nosso lugar.

Copo de leite e colo de mãe

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Da Série: Peter Pan Barbudo
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Há remédio para tudo nessa vida
E nem sempre é preciso se drogar por ai ...
Nem sempre!

E eu que pensei que a idade me livraria de certas doenças
Quanta bobagem, não?!
Foi justamente o tempo que me provou o contrário

De agudas, elas se tornam crônicas e ainda mais recorrentes
Oscilando em picos de alta e altíssima concentração
E nunca, mas nunca mesmo, elas saram de vez.

Tanto acostumei a ser enfermo, que aprendi a gostar.
E lá vou eu me entorpecer mais uma vez...

Fui.

Semana sem doce!

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Da Série: "As lágrimas secam com o vento, mas a tinta eterniza nosso sofrimento"
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(Sonhos e suspiros!)

Eram doces aquelas segundas...
Nas freiras, mesmo que chegasse primeiro,
Por ultimo me ia...
Mas ia.

Pois bem, fui.
E de todo sorria...

Debruçava-me na mesa,
Corpo solto na caldeira e
Muito açúcar pra melar.

(Sonhos e suspiros!)

Eram doces aquelas segundas...
Nas terceiras eu ficava.
A diabetes me perseguia e
Questionava meu paladar.

Então suspirava,
De tão bem queria,
Que até o ar dos pulmões eu perdia
Me sufocando com aspartame
ao lacrimejar.

(Sonhos e suspiros!)

Eram doces aquelas segundas...
Em todas as nossas quartas de finais de tarde a sós,
Porém juntos.

(Sonhos, suspiros e beijinhos!)

Eram doces os nossos segundos...
De freira, consenti seu doce,
Seus beijinhos e seus quadriláteros,
Que dançavam embalados pelo corpo social em nós,
E recheados de sacarose.

Enfim, que sonhei e suspirei!

E de tanto que fiquei adocicado,
Se o tempo me voltar salgado,
Semana que vem, eu juro que saro
Com o bis do seu carinho, meu bem
Pois por ti, sou apaixonado.

Poucas vias, muitos lugares...

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Da série: "Salada de idéias e bife de realidade"

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A mão que me agride é a mesma mão que um dia me agradou com carinhos.
A mão que me prende é a mesma mão que um dia me libertou das grades.
A mão que me empurra é a mesma mão que um dia me puxou para perto.
A mão que me questiona é a mesma mão que um dia sanou todas minha dúvidas.
A mão que me oprime é a mesma mão que um dia tanto me alegrou com sorrisos.
A mão que me incobre é a mesma mão que um dia evidênciou o que sou.
A mão que me machuca é a mesma mão que um dia me consolou por bondade.
A mão que me despeja é a mesma mão que um dia me serviu como abrigo.
A mão que me mata é a mesma mão que um dia me salvou de mim mesmo...

Então porque preocupar-me por qual via eu seguirei?
Se o céu não é mais o limite, o inferno também não deve ser um castigo.
Se um dia tudo isso foi o nada, talvez hoje só isso aqui é que seja o tudo.

Esse sim é meu meio por inteiro:
Troca de canecas, cerveja de companheira, minha jaqueta de mármore e minha cadeira de veludo...
Conversa pra gente grande
Papo de surdo e mudo.

Ê vida... Vai seguindo que eu já vou indo...
Talvez um dia eu saio da contra-mão.

Des Envolvimento

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Coleção: Qual é o Assunto Mesmo?
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Não se faz mais filhos como os de antigamente, muito menos os pais como os de antes. Muita coisa não é como era, e muita coisa agora é como não era antigamente. As músicas não são como as de antes. Nem os gostos, nem os ideais e nem as idéias trocadas na mesa do bar no fim de semana. As roupas das pessoas encurtaram, diminuiram de tamanho, assim como os cabelos e os pelos de todo o corpo. A esposa já não cuida mais de casa, agora é a Dona Gertrudes da rua de baixo que faz este serviço em troco de alguns trocados.

Os empregados das empresas, não manipulam mais as peças, agora são as maquinas que fazem isso por eles, só que em troca de nada ao contrario da Dona Gertrudes da rua de baixo. Não fazem mais compras para suprir as necessidades como antes, agora gastam o que não tem e pagam só no final do mês. Raramente por necessidade, muitas vezes só por desejo e até para manter as aparências. Aparência esta, que segundo ditado popular, engana. Não a mim.

Antigamente tomavam café-da-tarde com toda a familia reunida em torno da mesa, hoje comem um hot-dog as pressas para não perderem o onibus. Antes guardavam as fotos da familia com muito sentimento e carinho em um album antigo, hoje tiram fotos na frente do espelho e colocam na internet. Antes escreviam no diario, agora é blog. Antes faziam por amor, agora é por interesse. Antes era por diversão, agora é por vício. Antes eram os caras pintadas, agora não há nem caras.

É, realmente amo muito o passado e fecho os olhos para o novo, que segunda Elis Regina, sempre vem. Sempre vem mesmo, porém mais fútil, atraente, descartavél e comercializavel. Os velhos valores da sociedade estão caindo. Não se trata de conservadorismo e sim de um mínimo de noção do que faz sentido e do que não faz, se é que é pra ter sentido tudo isso. Tudo está mais desconexo, distante, perdido. E dizem por ai que se trata de liberdade, evolução, desenvolvimento...

Daqui de cima vejo apenas pessoas rodando em círculos cada vez menores, cada vez mais se fechando... e que logo estarão girando em torno de si mesmas e formando uma espécie de buraco negro que as levara pro nada. E esta é a tal da liberdade que cada uma delas busca a todo custo. Infames. Não conhecem os verdadeiros prazeres da vida. Envolvam-se, antes que seja tarde.

São os Fantasmas do Passado

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Da Série: Pode Ser Que Sim , Mas Também Pode Ser Que Não.
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Naquele momento tive muita coragem, se é que se pode chamar desta forma tal atitude. Não hesitei como as outras tantas vezes, apesar das duvidas latentes em minha cabeça. Meu medo e insegurança eram expressos fisicamente através do meu palavreado tremulo ainda mais que minhas mãos, que por sinal também suavam frio assim como todo o meu corpo.

Talvez este frio que sentia, fosse produto da ação de um coração ainda mais frio que se apossava de todo o meu corpo diante a situação. Poucas palavras foram ditas. Em muito pouco tempo, o espaço tomou conta da minha vida. Em questão de segundos me vi entregue a ‘liberdade’ que tanto almejava e que hoje me assola.

Mas afinal o que poderia ser feito?Tantas mentiras já tinham sido ditas, tantos fatos ocultados...

Era o que restava a se fazer. Era a melhor resposta que eu podia dar para um mundo que tentava me acorrentar numa poltrona macia de tecido vermelho parecido com veludo, todas as noites para uma lavagem cerebral gradual.
Assusta-me a vontade de gritar que tudo isso poderia ter sido diferente. Não se trata de dor reprimida ou de rancor guardado, pois não tenho motivos para isso. O que machuca é ver a rápida adequação e como as personagens de algumas histórias podem ser facilmente trocadas sem que aja alteração no roteiro. Isso sim realmente me assusta e me irrita muito.

Por enquanto sofro para me adequar. Sofro por lembrar e sofro por sonhar todas as noites. O vazio continua. O frio do meu coração parece ter congelado toda minha vida e todos os meus sentimentos. Meu egoísmo destrói a mim mesmo, e ainda á todas as possibilidades de me esquentar com uma fagulha de fogo em meio a esse inferno que é a vida sem sentido algum.

Se me lembro bem, na poltrona vermelha de veludo tinha alguém segurando a minha mão. Hoje não tem ninguém.

Hey, mafren! Também não sinto nada!

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Da série: Pode Ser Que Sim, Mas Também Pode Ser Que Sim.

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Não sei ao certo o que espera agindo assim
Mas sei bem o que não precisa esperar
Sou frio e inconstante
Talvez haja um psicopata em mim

O bom é que isso você já percebeu
Não tenho sentimento por ninguem
Tanto faz se é o nascer do sol
Ou se é a morte de um rapaz de bem

Não sou mais simpático
Muito menos anti-social
Agora eu passo é despercebido
Não quero que me julguem mal

Sou estranho e estressado
Mais nunca estou preocupado
Observo,vejo olhares maldosos
e ouço palavras que voce nunca vai ouvir

E acredite,me odeio por se assim
Me odeio por não odiar ninguem além de mim
E odeio não amar ninguem
Além da idéia de me ter só pra mim

Talvez haja algo mesmo entre agente
Que nos afasta a cada dia
Chame-o de como você quiser
Eu o chamo de tempo.

Querer (mesmo que seja tudo e ao mesmo tempo!).

Não me surpreende mais os meus complexos, repentinos e um tanto estranhos desejos. Querer isso, querer aquilo assim e assado. Desejos são apenas desejos, e que as vezes nem condiz com uma eventual concretização ou realização. Mas os meus desejos estão sempre ali coexistindo de certa forma na minha mente e me influenciando no mundo real por mais tosco, idiota e momentâneo que ele seja.

Tudo que faço no meu dia a dia é em consequência destes desejos. Não os forço, são naturais. Não os recrimino, são inocentes. Não me culpo, eles se formam inconscientemente em minha cabeça.

Sua inconveniência muitas vezes me compromete. Fico pensando como seria bom se agisse por si só, se agisse pelo correto sem influência interna de meus escrotos estímulos. Talvez faria mais sentido todo o contexto da história e eu ainda teria um caminho traçado a seguir. Eu não deitaria toda noite perplexo pelo o que aconteceu neste dia e pensativo pelo o que pode vir a acontecer amanhã.

Desejos vão e vem e bagunçam minha vida. Ora eles acertam, ora eles erram feio, e quando erram, preciso de muitos outros para concertar a falha do anterior, além de muita sorte para combina-los e explora-los na hora certa.

Não vou mentir: alguns se sobressaem sobre outros. Já desejei ter, desejei fugir, me esconder, enganar. Desejei falar, beijar,abraçar. Desejei ter medo, ser lucido, careta e viajante. Já desejei essa , aquela, ela, ele, esse e aquele. O bem e o mal. Ser o chato e o legal. Desejei fúria, sossego e sucesso. Desejei a morte, a vida, a esperança , a decência, a indecência e até a decadência.

Quando era pra respeitar eu desejei tirar um barato. Quando era pra apagar desejei acender mais um. Quando era pra dormir eu desejei virar a noite. Quando era pra ficar só eu desejei companhia. Quando era pra trabalhar eu desejei ficar a toa. Quando era pra ter uma desejei ter várias. Quando era pra amar eu desejei a solidão. Quando era pra enxergar eu desejei fechar os olhos. Quando era pra ver o sol desejei olhar pra lua. Quando era pra desejar eu desejei não desejar, e o fiz com vontade e como poucas as vezes, com muita sabedoria e conciência.

Então desejei tirar a areia dos olhos e dizer: Eu desejo deseja-la, e assim se fez.
É assim hoje, e quem sabe amanhã. Talvez não devesse desejar os meus desejos. Talvez devesse apenas desejar como de costume, viver em prol disso e nada mais.

Dezoito Carnavais Mais Tarde

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Da série: "O que é mesmo que se passa?"
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Trago um novo sonho,um novo passado, um novo progresso
Novos arrependimentos, e um novo sucesso.
Trago novas ciências , novas tecnologias e também velhas viagens
Com novos pedidos e novas bagagens
Com pensamentos positivos ,alegria e felicidade
E ainda o que há de mais raro na humanidade: a simplicidade.

Trago também o amor
O mesmo amor que trás a saudade , que trás a dor
E só aumenta aquilo que é belo de verdade
Na real impossibiliade de disfarçar realidade
Que engana e machuca a mente, alterada, que segue em frente
Mesmo que ausente , ela não se arrepende e ainda pulsa.
Ainda pulsa e ainda busca achar o que ainda não perdeu
Porque nunca teve, nem nunca viu, nunca sentiu
E nem nunca almejou, e agora cai de joelhos diante da mais bela flor.

Trago a morte, a seca , o nascimento e o asfalto.
Mesmo que fraca, trago também a luz
Que espanta todo o caos e a má fé que habita a escuridão
Da inútil forma de vida de um frágil coração, em pedaços pelo chão
Que humildimente implora pelo perdão.

Pra falar a real, o que trago mesmo , é o mundo de verdade
Castigado pelo exesso de vaidade que reluz a mediocridade
Implatada na sociedade antes mesmo, da igualdade.