terça-feira, 3 de julho de 2012

Consenso, ou sem ele?


Baixe a venda
Não deixe que a
cortina
cubra os seus belos olhos
Olhe para frente, não se renda!
Você não está
sozinho
ouvindo essa canção.

Não se acorrente
Desata esse

com um copo de malícia
Me diga quem nasceu
pra andar
numa

pista
se o caminho faz sentido até
na contra mão?


Congela alma fria
consenso morno
e cego
desses mesmos dias
amarga e fere a boca
de quem
acredita
que a sacola de pele poderá sentir.

[...]

Antes de cair em desuso por
falta
de decoro
ou por simples
opção.



terça-feira, 26 de junho de 2012

Meio relato das reflexões sobre o negro no Brasil contemporâneo


(...)

O fato do “racismo” permear e dar o tom de toda a conversa com os entrevistados foi, de fato, crucial para que pudéssemos notar - por mais que já esperássemos por isso- o quão ainda somos uma sociedade grandemente racista e o quanto os negros são atingidos de forma direta ou indireta por isso, e ainda, como esse tipo de preconceito se estende para os diversos campos da vida no cotidiano, seja diante da família, da educação, da política e até mesmo diante da própria cultura, na maioria das vezes, marginalizada frente às tantas outras. Preconceito este que, em grande parte da sociedade se vê enraizado na forma do pensamento hegemônico, fruto natural de uma prática racista secular que marginaliza os negros e quase tudo que dele advém, desprezando todo o fardo histórico que carregam.

(...)

Penso que os vídeos-entrevista foram, por si só, muito claros e incisos no que o grupo pretendia descobrir através da pesquisa e, posteriormente, divulgar aos colegas de sala: o racismo existe e a democracia racial, ainda hoje, esta bem longe de ser uma verdade por completa. Avalio, com grande estima e admiração, a fala do colega Gustavo que, após a apresentação do grupo, este se pronunciou de forma muito aberta e sincera à sala, dizendo ter mudado de opinião em relação à questão do negro no Brasil, tendo em vista o conteúdo do nosso trabalho. Notei também, que após o término da apresentação apenas duas pessoas se pronunciaram (Gustavo e Igor), o que me levou pensar o quanto a simplicidade e a vivacidade da fala dos entrevistados foram capazes de sensibilizar as pessoas, deixando sem argumento os que insistiam em discursos anti-políticas de afirmação racial, pois acabavam de ver de perto, e pela boca dos que mais tem propriedade para falar, o racismo que ainda hoje impera sobre a nossa sociedade. Não que estes também tenham mudado de opinião assim como o colega Gustavo, mas imagino que, pelo menos, sentiram o peso da carga histórica que fundamenta todo o discurso de que não são adeptos, a ponto de serem impelidos a permanecerem calados.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Enquadros














Era quase pintura
viva
E só eu vi
gravura que movia
se despida.
Enquadros
no quarto
o toque dela.

A cama de moldura
enfeitava aquela tela
era bela a sua
figura
de cores autênticas
e sinceras.
De primeira um segundo
olhar sobre ela.
Tão linda
à luz de velas.

Sonho de hippie
inspiração
musa da favela.
Obra de arte 
cara, mas singela. 
E na parede do quarto
em quadro
escrevo
o nome dela.






terça-feira, 19 de junho de 2012

Gabriela

Quem é esse anjo?
que de tempos em tempos
me apetece.
Como um sussurro no escuro
passageiro
que tímido logo cala
e desaparece.
Quem é esse anjo que vejo
entre a retina dos olhos
e o clarão da janela
na manhã que cega a vista
que me beija ao anoitecer
mas me deixa no outro dia
pra não se perder
de farta companhia
na rápida e apaixonada estadia.
Quem é?
Quem é?

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Transacionando o Tempo

Ouvi o mestre dizer
sobre o tempo transacionado
tira aqui,
põe ali.
Segue o compasso
vertebrado.

Desatemporado
sem tempo
e sem gingado.
Ouvi o mestre dizendo
e me lembrei do tempo
passado.

Das coisa que não li
nos livros
e nem no papel rasgado
anunciando
o que já era dado.
Lembro de tudo
só não daquele tempo
que ficou
transacionado.








terça-feira, 12 de junho de 2012

Entre Aspas

Nada disso foi eu quem disse...
mas tenho que concordar, em muito 
com o que se fez dizer.


Por alguém próximo a mim, abre aspas...


Eu vi ontem tanta, tanta gente se queixar do dia dos namorados. E também vi tanta gente correndo, procurando flores, fazendo declarações de amor apaixonadas, se esmerando em agradar seus parceiros. Fiquei com o conjunto de informações na cabeça e não tive como não refletir sobre isso. Seria mais bacana se todos os dias fossem dias dos namorados. Que as pessoas se amassem, entendessem, ouvissem, declarassem todos os dias, com a mesma intensidade que procuram fazer no dia 12 de junho. Eu sei que muita gente já o faz. Não estou aqui para questionar ninguém. Também sei que quem resolve ficar amargo, a protestar contra o mundo, não o faz por mal ou por querer apedrejar os namorados. Mas seria mais interessante que nós nos tratássemos com mais amor, carinho cotidianamente. Seria melhor que meia dúzia de flores e um jantar uma vez por ano. E que os solitários se abrissem cada vez mais ao amor, sem ridicularizá-lo, sem as mãos cheias de pedras. Eu sei que parece muito idealismo, mas acho que são essas situações corriqueiras que refletem justamente a complexidade de determinadas questões. Nós ficamos felizes por poder comprar, por expor nossos amores tal qual propriedades. Nos deixamos estereotipar, considerando plenitude, termos uma pessoa ao lado. Ficamos maravilhados em dizer publicamente, uma vez ao ano, que amamos o outro. Seria legal fazer todos os dias, independente de compra, de data. Amar de verdade uns aos outros. Se abrir às maravilhas, à intensidade e à loucura de cada um poder ser o que realmente é. E gostar disso. Todos os dias.


Fecha aspas.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Fim de feira

É fim de feira,
chegou não de repente.
O sol brilhou,
céu azul também se fez presente.

É fim de feira,
faz rateio, junta a sobra.
A estrada espera,
e o paraíso não demora.

Mala arrumada,
o para brisa ta embasado.
A alegria eu levo,
mesmo de coração apertado

Sorriso no rosto,
simpatia no olhar.
Quem eu mais me apego,
é com quem procuro estar.

Chama a galera,
a pista ta liberada.
E se a lua nos der a graça,
hoje não volto pra casa.

Coisas que acredito,
coisas que me fazem bem:
Amigos, música e praia
é delas que sou refém.




Pelos

Pelos.
Pelos e cabelos...
Por que não te-los?
qual é a lógica de não se-los?
por pura e simples repressão?
só pelo prazer da negação
da nossa condição de meros animais
forjados em cidadãos?

Se for por isso, eu digo não!
Questão de aceitação,
somos todos iguais,
independentes de qualquer classificação:
cor, cheiro, credo, raça, status, classe.
Nisso eu creio: somos iguais!
quer queira você ou não.

Pelos.
Pelos e cabelos...
Definitivamente, não sei porque não te-los!
Solte suas tranças,
cultive o seu bigode.
Meninas também podem,
e não tem que diferenciar!

Pois é, elas podem sim!
quem foi que disse que não?
Foi o padrão? ah é, o padrão...
Troca o P pelo L e vira "Ladrão".
Ladrão de liberdade!
Do curso natural do tempo
dos pelos sobre a pele
da pele sobre o corpo.


Sobre nós o peso.
Toda uma sociedade careta
de cara lisa e pelada,
por de trás da cortina
e quando por cima, calada.
Guarda baixa,
sem pelos, nem cabelos 
nem nada.










terça-feira, 5 de junho de 2012

Jogo aberto

Correndo, só
pelo prazer de correr
suar a camisa
seja la qual for o lugar:
eu correrei!

Pra não ficar estático
parado na inércia.

Vai, mostra quem sou,
quem fui
e quem serei?

Movimentar é preciso
a todo tempo
a todo custo!

Passar a bola adiante
inverter o jogo
mudar de posição
se necessário
por que não?

Cair e levantar
Já que as faltas são pedagógicas
e também fazem parte do jogo.

Cartão vermelho,
Green card,
Céu azul,
Pastilhas coloridas,
Yellow submarine.

Sinal verde:
são só as consequências.
Ora boas, ora nem tão boas assim.

Jogo aberto
Pra você, pra mim
pra toda forma de conhecimento
a deriva do saber!

Jogo aberto com todo o ser
que se move
e move o mundo
como deveria ser.

Vai saber o que vem por ai.
Vai saber...




quarta-feira, 30 de maio de 2012

6 am

A maior subversão
esta em levantar da cama 
todos os dias, disposto
pela manhã, cheirando à café
fervendo, em dia frio
pra insistir sobreviver em amarga vida
mesmo sabendo o que ela implica: 
A morte.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

"O que é a vida?"

Se me perguntassem não saberia responder.
No entanto me arrisco
Tanto na vida como em sua definição também!
Com aquela certeza absoluta que só um leigo tem
Um ignorante.
Ora, porque não?
Todo os somos, não é mesmo?

Vida é isso ai que agente vê todo dia na TV.

Não? Ok, tentarei outra pois nem a mim convenceu.
E olha que nem é difícil me convencer...
Sou braço mole que todo mundo torce
E qualquer voz doce levanta - mas isso não importa.

Vida é a eterna busca da resposta desta pergunta.
A procura de um sentido
um único sentido!
Que no mesmo momento em que se encontra, também se perde pra sempre.

Vida é o oposto da morte
É a incerteza, o amanhã.
Hoje, agora.
Futuro? quem sabe!
É o posto e o colocado
O dado e o determinado
É um jogo de sorte
ou azar.

Vida é o rap, o samba, o negro, o pobre.
O branco.
A burguesia revolucionária
A classe oprimida, a maioria dominada
A militância e o confronto entre as tantas verdades.
Vida é conjunto de valores e crenças milenares.
É um estatuto, com normas e procedimentos particulares.

Vida é o que não se tem do lado de lá
O que se perde quando os olhos piscam ou quando um pai se vai
É o que quase não se tem quando fica.
E ainda assim fica.

Vida é egoísmo
é viver pra si e nada mais
Trabalhar, comer, dormir.

É destruição.
Construir pra poder destruir logo em seguida
É propriedade.
Instituição, mais errado que de direito.
É o puro mel do prazer
Hedonismo.
Orgia, sacanagem e pornografia.
É a política, futebol, religião e oligarquia.

É capital, exploração, democracia.

Vida é tudo.
Mas também é nada.

É... olhando daqui, tá mais pra um todo cheio de nada essa tal de vida
tão sofrida!

Então faz assim ó: esquece o que escrevi até aqui!?

Da vida não se leva nada,
E de nada já estamos todos cheios.








sexta-feira, 18 de maio de 2012

Um pessoa pra amar


Olha só, mas veja onde chegamos
E eu que nem tava procurando
Uma pessoa pra amar.

Você surgiu, veio mesmo lá do céu
Não esperava tanto mel
E tanto brilho no olhar

Eu me lembro, você sorria envergonhado
E eu olhando pro outro lado
Fingia não notar.

E logo era então festa de Junho
Você não sabe, juro
Mas fiquei a te esperar.

E toda noite era tudo sempre igual
Num quarto quase viva
Imaginando o que seria dessa estória no final

Do outro lado alguém desesperado
De saudade eu te procurava
Até em manchete de jornal.

Ainda é cedo!

Hoje, só queria sentir
O conforto do teu abraço!
O teu cheiro, teu sabor...
Vem me curar da dor saudade
Vem me lembrar que verdadeiro
É o nosso amor.

Meu bem, não fica assim...
Entre agente nunca faltou carinho
Não é agora que a bagagem pesa
Se o que trago no caminho
É só a prova desse amor!

Fica comigo mais cem anos
ainda é cedo pra partir!
É inverno, agente se ajeita
Te empresto os meus braços
E te cubro com beijos
dos pés a cabeça
Toda noite pra dormir.








sexta-feira, 11 de maio de 2012

Herói marginal

Braços fortemente fracos
passos largos parcos
poucos loucos e incrédulos marginais.
Escassos maços
de cigarro
no bolso da jaqueta
laços de cabelo
nos presos cachos
fios soltos
enfeitando eventuais problemas.
Longe traço
risco opaco
rosto amargo
franco frasco do fracasso.
Rebelde sem causa
sem pose e sem mastro
uma pausa da guerra
lúcida e flagelada pelos lastro ancestrais.




terça-feira, 8 de maio de 2012

Acorda, Zé.


<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<
Coleção: O Pequeno-burguês.
>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>


O mesmo filme
a mesma cena
a mesma vida
e um único problema!
acorda cedo
o sol grita
já é tarde
relógio alarda
já passam das 7h
e eu aqui.
La fora o novo de novo
mas ainda é feira
outra vez
o dia pra seduzir
e a rotina pra te engolir
eu vou?
eu fui.
ciclicamente
põe no neutro e deixa ir
cinicamente
que a ressaca eu tiro com uma dose de hora extra
até o fim do dia
antes de me exaurir.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Da verdade à comissão.

Que toda a verdade seja exposta
vomitada, dos registro antigos pra fora
revivida dos porões escuros
das salas de tortura
pra claridade do saber humano
do se fazer saber pra verdade, nada além.
pois se o é, então que seja por inteira
sem meias palavras, sem mais segredos.
nem pecados.
amém.

Quantas mães desesperadas
quantos pais vingativos
cansados de procurar pelo filho
ajoelhariam pedindo por retalhação?
a oração já se mostrou falha...
Este é o medo? Pois bem, tenha mesmo.
que os vivos carregam sob os ombros o peso dos mortos.
o peso da história, do conflito, do oculto.
e eles querem é descansar.

O passado nunca morre, só dorme.
porque o futuro logo se levanta.
é a tal da luta, é o motor do mundo
combustível pra vencer, a esperança!
de um dia saber a verdade, pois só ela interessa.

Quando o velho morre, o novo se levanta.
Mas a lembrança fica.
Fica a marca, e a cicatriz.


Tudo bem, eu me perdoo.

Peço desculpas
desta vez  não a ti mas a mim mesmo!
forjei meu fracasso pra te agradar
fomentei um regresso pra tentar te guardar
e tudo isso pra que?
nem mesmo agora poderia dizer
se eu corro não é pra me esconder
e sim pra te proteger
da minha angústia travestida de incerteza
que carrego debaixo da pele que é pra ninguém perceber.





domingo, 6 de maio de 2012

Garoto propaganda dos jornais
contando moedas, troco pela janela
entre o verde e o amarelo dos sinais

Olha o retrato na pagina policial
foto estampada, cara procurada
foi você quem viu?

Intenção destorcida, mal interpretada
informação manipulada
criando currais.

Leis que ferem
leis que abusam
o pobre, o preto, o preso
não tem contraste, é tudo igual

Leis que regem
leis que determinam
os ricos se afirmam
enquanto high society


sexta-feira, 4 de maio de 2012

Dia "D"

Acorda
levanta
desce
sobe
enrola
deita
levanta
come
enrola
deita
cochila
acorda
enrola
levanta
desce
sai
escreve
volta
sobe
come
deita
pensa
e dorme.

Acorda!

E segue em frente na vida
até a próxima esquina.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Minha laia

Agente sofre...
mas agente sobe!
agente desce,
agente até some
se esconde...
até que um dia agente morre.
disso agente tem medo
aversão, ô se agente tem!
agende sente saudade
quando a solidão na gente vem.
Agente tem frio, calor
agente tem muito medo também.
aqui agente tem fome
lá agente tem trabalho
agente é pobre e rico
feio, bonito
agente é preto e branco
vermelho, amarelo
agente é novo e velho.
de uns dias pra cá
agente tem a impressão
de ter se tornado um pouco mais sério
acho que agente foge é da solução
daquela que não seja agente
deitado e dormindo
na cova de um cemitério.
Mas lá no fundo agente é feliz!
agente sorri, brinca.
brinca e sorri.
agente é isso
agente fala, conversa e grita!
pena que nem mesmo agente ouve.
Agente canta e dança
samba e ganha dinheiro
agente toca pandeiro
enquanto o presidente toca agente pra frente
tem gente tocando uma
pensando no discurso eloquente.
Ás vezes agente briga
xinga, chora
agente sente
ausente
mas depois agente volta
agente se entende.
afinal, agente se ama.
E quem ama como agente
sabe como é
e não se arrepende
nem de repente
do peso que ta nas costas da gente.

Vai ver é porque não é ele quem sente.
o fardo histórico
que carrega minha gente.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Guerreiro morto

Elemento orgânico sufocado
Amparado pelo silencio da morte
Terra na boca, nos olhos e ouvidos
Os vermes da terra o destroem
Dilaceram o pouco que resta da pele
Do interior, coração e das vísceras
Indefeso, insolúvel, invariável
Todo o ao redor o suprimi
O compactua numa massa heterogênea
Já pouco se distingue das outras partes
O que é rosto, garganta, peito ou barriga?
O que é verdadeiramente próprio?
Tudo se confundiu num só câncer
Terra, homem, vermes.

.

Meta Linguagem

Textos são como fotografias da mente
Um recorte do pensamento
Surge em forma de palavra
Nascem dos dedos.
Do movimento
Do entendimento
E escorre pela caneta.

São pedaços da construção histórica
do indivíduo
do dia-a-dia'
do momento.
Nasce pronto se feito em papel
Mas logo morre quando é lido.
Filho de mãe ausente, solteira
Não cresce; pouco vive
Antes de escorregar pelo abismo do esquecimento
Para nunca mais se ver ou ouvir.





domingo, 29 de abril de 2012

Pelo hedonismo da vida e das formas concretas do pensar!

Numa sociedade líquida-moderna
Sólidos são os elos da corrente que nos prendem
Cada qual ao seu umbigo
Um-a-um em si mesmo

Envolto pelas benefes hedonistas
que carrega a multidão solitária
Solidária da sua própria causa
Dos seus próprios pensamentos
e egoísmos sem precedentes ou limites
Nessa história pobre e rala da desumanidade.

A multidão não tem coração
Não renasce, vive e nem morre.
Ela se arrasta pelo tempo.
Perdura não sei como.
Mas existe, e só - mesmo sem vida!
Não é hereditária nem tradicionalista:
Existe simplesmente por existir
Sem razão de ser ou crer
Mas pela de sobreviver num submundo
Com suas unidades privadas de sub-humanos
Todos sub-amados e sub-julgados
Como bem deve sub-ser.

Donos de si acenam quando donos de nós
Donos dos laços de arame farpado
Produzem o alimento pra carro
Pra comprar a unidade que falta
e até a do trabalhador expropriado
Preso em si, algemado pela cortina de fumaça
Ancorado no seio direito da sociedade
e no ventre materno burguês da maldade.
Das relações vazias de afeto
Mas cheias de domínio e legitimidade.

O prazer ta na vida, mesmo se mal vivida.



quinta-feira, 5 de abril de 2012

"Você me chamou pra dançar aquele dia"

_______________________
Da série: Só sei dançar com você
_______________________


(...)
Me confundo num copo
De gelo e Whisky
Pra podermos nos deitar.

Cabeças leves, vazias feito o nada
Corações aflitos, mas cheios
Nos permitindo ao sentimento pétreo
Pai de todos os desejo que constituem os pensamentos avulsos
Na plataforma física e surreal do momento.

E num instante, até o tempo faz o mínimo de sentido
Ou até nenhum, mas isso já não importa
É meu carma.

Tomo mais uma dose da coragem sórdida
Que é pra não findar as sensações da pele
A carne da alma precisa respirar!
Às levarei comigo, e hão de serem conservadas
De modo a eterniza-las!
Daria minha palavra se ela já lhe valesse algo.

O pensamento transcorre e já beira a loucura
Minha língua vai passear pelo teu corpo
Teu corpo se retorce de vontade
E pede, em gestos, pra que dancemos
Corpo e alma em ritmo, na mesma sintonia
Embriagados pelo desejo livre de pudor
De provar do amor do outro.

Seu corpo pede.
O meu aceita.

Dançaremos a noite toda
Sem perder o compasso
E a beleza dessa melodia.



segunda-feira, 2 de abril de 2012

Até Então

Se se foi, que vá.
Não seria justo insistir pra ficar.

E se se vai, vai lento
Vai devagar
Vai como quem não queria ir
Vai pedindo pra ficar.

Mas vai.
Longe vai.

O mesmo que veio.
De novo, e de novo
É ele quem vai
E vai com presa
que é pra logo voltar
Vai com tudo
que é pra não se cansar.

Só peço que não se perca
E guarde os nossos beijos
nossos passeios
noitadas
biritas
mensagens
conversas
geladas.
Faça disso tudo experiência
de uma estória mal contada.

Mas se se foi, que vá!
Já disse: não seria justo insistir pra ficar!

Mas o que deus fez de justo nessa vida tão sem graça?!
Não consigo me lembrar.
Aqui, me sobra injustiça
E não cabe no travesseiro
Quando tento me deitar.

Pode ir indo, que tão logo não irei atrás.




quinta-feira, 1 de março de 2012

Ela soube ser pornográfica!

    Não me lembro do motivo ou ocasião, mas em face dos últimos acontecimentos, me pus a pensar em nada, e isso me surgiu de repente. O dono do que segue abaixo é Carlos Drummond de Andrade, mas não é nele que penso quando leio...
    Ela me deu esta poesia em papel pintado, e eu sinto por nunca ter dado nada a ela - espero que me desculpe por isso.

Abre aspas...

    Em face dos últimos acontecimentos 
Oh! sejamos pornográficos
(docemente pornográficos).
Por que seremos mais castos
que o nosso avô português?
Oh! sejamos navegantes,
bandeirantes e guerreiros
sejamos tudo que quiserem,
sobretudo pornográficos.
 
A tarde pode ser triste
e as mulheres podem doer
como dói um soco no olho
(pornográficos, pornográficos).
 
Teus amigos estão sorrindo
de tua última resolução.
Pensavam que o suicídio
fosse a última solução.
Não compreendem, coitados,
que o melhor é ser pornográfico.
 
Propõe isso ao teu vizinho,
ao condutor do teu bonde,
a todas as criaturas
que são inúteis e existem,
propõe ao homem de óculos
e à mulher da trouxa de roupa.
Dize a todos: Meus irmãos,
não quereis ser pornográficos?

Fecha aspas.




quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Oração (de malungo pra menina).

Sou teu devoto
Teu fiel adorador
Oh, menina santa querida
Da pele cor-de-pêssego
Mãe dos filhos que nunca quis ter
Avó dos netos que nunca virão
Quem sabe um dia eu seja como tu
Nobre de coração
E facínora no perdão

Faz amor comigo
Menina santa, minha querida
Diz mais uma vez
Que meu sexo saciou a tua fome
E que nada é mais verdade
Que meu sorriso atoa
Seguido de um beijo roubado
Mesclado de desejo e pudor

Te prometo lealdade, menina
Aquela que nunca tive para comigo mesmo
Te prometo me entregar
Oh santa divina
De corpo e espírito
Sendo eu mesmo sempre que possível
Mesmo não sabendo
Nem quem sou ou quando ser.

Tenha paciência!
Minha castidade é tua
Fruto da desordem
Faça o que quiser com ela!
Meu voto de pobreza
É pretexto pra dividir a simplicidade da vida com você
Dividir tudo que é belo e casual
E contar as moedas pra pagar a cerveja
Num domingo Natal
Eu às de cinco, você às de dez.
De forma erudita e despojada
Tudo bem natural

Tua oração
 Farei todas as noites ao me deitar
Oh, minha querida
Sentindo na boca o teu gosto
E deleitando-se de nós
Pra poder sonhar
E ao acordar, te ver entregue
Dormindo em meus braços
Sem se preocupar
Se um dia a nossa luz vir a se apagar.

Fala e diz.

Pobre do eu.../ Mal consegue dizer!/ Não diz, não escreve/ Se não escreve, não pensa/ Na onda que passa e leva a leveza/ Com ela, a alegria em par/ A vontade de sorrir, longe vai/ Leva também a pureza/ Dos últimos dias, fica a dor/ Só ela, com ela mesma e eu/ Deixa o nós no singular/ Já que o plural do eu dói e machuca/ Cada vez mais, aumentando a dor/ Que nenhum labor/ Sequer um dia, poderá curar/ Pobre do eu.../ Mal consegue dizer/ Que nada importa ser só meu/ Sem antes ser todo seu/ Assim como já é.

Dois tempos

Quão diferente seria/ Se fossemos por fora/ O que realmente somos por dentro/ Será que alguém entenderia?/ Se não, deixemos de lado os outros/ O que importa somos nós/ Vivamos então, eu, você e a sua voz/ A nossa maneira/ Pois sou todo interior./ Não é todo sol que acorda disposto/ E nem toda lua se deita na cama/ Será o céu pequeno demais para esses dois astros?/ Nosso tempo se assemelha/ E existe na reciprocidade/ Não se dissolve nas águas mundanas/ Vivamos então, eu, você e a minha voz/ A nossa maneira/ Pois você é toda interior./ Quantas folhas o calendário já não virou?/ E os verões, quantos deles ainda terão de passar?/ E nesse tempo, surgiu um novo templo/ Era o nosso templo, e tinha como tempo, nós dois./ Por mais distancia que havia entre os tempos./ Diferente de tudo que aconteceu naquela noite/ Pela madrugada a fora, nas ruas da cidade, pelos bares do centro.../ Foi diferente, pois nada se compara, muito menos se comprara.

(Re) volta e fica!



O ranger da porta velha ao entrar...

“Amor é revolução
Derrubando a ditadura da solidão”

Sobre a mesa, maço de cigarro e cinzeiro
Latas amassadas de cerveja
Tudo em meio à desordem que os textos e livros marxistas causam
Junto com os poemas de própria autoria
Os quais recitei baixinho no pé do seu ouvido
Enquanto tomávamos vinho argentino
E falávamos sobre Che, sobre 68, sobre a França.

 Olhar fixo, sorriso simpático e sincero
Um beijo molhado pra deitar, pra me acalmar
Naquele instante, éramos um uníssono.
Não havia diferença sequer no tempo.
Não havia passado ou futuro: só o presente!
Um entrelaçado de corpos em sintonia rítmica
Movimentos prazerosamente uniformes, consentidos
Tanto corpo, quanto mente, alma, espírito e coração
Todos embalados por uma mesma canção
Madrugada à dentro.


Enfim, a luz deu sua graça
O sol da manhã iluminando o escuro do quarto
O vento fresco e tímido passeando por nós
Da janela entreaberta até a fresta por debaixo da porta
Espalhando teu cheiro doce por toda casa
Cama desarrumada, roupas espalhadas pelo chão
É sinal que céu desceu aqui noite passada
Para que os anjos pudessem nos saudar.

“A beleza não está nos olhos de quem à enxerga
Ela está toda em você!
Mas o que será isso, mulher?
É a carinha do amor pintando, meu homem!”

A porta velha range outra vez...
Só que agora é pra se despedir.
Que pena, que pena.

Há quanto tempo (eu gosto de você!)?

___________________________________
Da série: É verão ou é inverno?
___________________________________



Há quanto tempo até me tornar na sua vida
Mais uma daquelas estórias do passado
De paixões mal vividas, romances mal acabados?
Apenas um casal entediado com a rotina de ficar.

Quanto tempo mais? Quanto tempo menos?
Não é medo, só quero levar algo real disso tudo
Uma resposta mesmo que parcial ou no escuro
Quanto tempo mais dura o amor? Eu não sei.

Já te falaram que é loucura, só agora percebi
É diferente sim, mas foi o que aconteceu
Nessas tardes de verão o amor vai vem todo hora
Logo ele passe por aqui de volta, e não demora.

De uma meia volta de uma vez, mas leve meu pensamento!
Eu sei, cidade grande é cheia de contratempos
Carros, lojas, pessoas. Todos disputando um espaço
Assim como eu disputo no seu coração.

Suas amigas dizem a verdade, é por carinho
Que arrisca o tempo em troca do colinho meu
Pra que a confusão? Deixe-a de lado meu bem
Fica aqui, que você fica bem e eu também.

Minha fé, meu crédito.

_________________________
Da série: classe-(i)média(tista)
_________________________


A fé e o crédito
Combustível da humanidade
Invisível a olho nú
Inerente à realidade
E irreverente sua versatilidade

Comumente à qualquer lugar
Pra seguir a massa amontoada
Duramente amansada
Em pura e singela gratidão
Pela generosidade

A fé no crédito
A fertilidade do crediário
Pro esfomeado, pro ex-presidiário
Na certeza de uma vida
A vida que segue, que cega e seca

De pé, oh vítimas fluidas e inconscientes!
De uma sociedade líquido-moderna
Passível de enganação
Mas nunca de indignação.
Nunca.

Vai, segue a massa amansada
Já seca, flácida e (desa)creditada
Amontoada em iguais febris
Numa fé que segue errante
Até o segundo seguinte
Até um segundo instante

E continua seguindo...
Seguindo...
E seguindo.

Garota garoa

__________________________
Dá série: São as águas de verão
___________________________

“Chove Chuva
Chove sem parar...”


Sua boca fez chover meus olhos
Quando tremula disse adeus
Fez cair o céu da nuvem
Fez transbordar o chão meu

O silêncio ecoou baixinho
No vazio imenso da solidão
Que num instante havia inundado
Ainda que segura pela mão

Meu chover fez florir seus lábios
Que manhoso me pedia atenção
Fez molhar água da chuva
Fez nascer o que era bom.

O sentimento brotou sozinho
Feito semente morna em algodão
Que estende suas raízes
E faz mover um coração.


“Que é muito lindo, é mais que o infinito
É puro e belo, inocente como a flor.”

O Pedaço pesado da fé

Serei eu, capingado por tal feito?
Um nobre, puro e sincero como deus quis?
De ser nobre, não me culpo
Pois modéstia é sina de desgraçado
Outrora fui me, hoje não.
Se sou consagrado, é por ter sido antes bem açoitado.



Não mais quero ser perdoado
Nem tampouco serei castigado por descendência
Pede clemência pro teu deus e ora por teu pecado
Que ninguém passará livre, desaperebido
nem desavisado.



Eu? Não! Teu deus não me é digno
Faltaria lhe muita coragem pra padecer-me daqui
Bom senso e boa reza o acolherá
Pois eu sou o próprio deus vivo
Quando não o próprio diabo
de pés descalços caminhado por sobre terra

Credes agora no que digo?
Vedes agora o que falo?

Meu caro!

Ser me, foi suficientemente redundante.
Paradoxal, quando não me for verdadeiro!

Quem há de coagir tal afano indissolúvel?

Nem teu deus.
Nem eu.
Nem ninguém.

Medo de quê?

________________________
Da série: Eu?
________________________


Já me disseram que o medo mora perto das ideias loucas.

Eu discordo.
Prefiro que seu único vizinho seja a coragem!

Não gosto de medo por que não o tenho.
E não o tenho, porque não gosto de ter.
É assim mesmo: simples, prático e direto!

A vida é movimento, é continuidade
É uma viajem sem parada até o destino final

Não quero desperdiçar tempo com prevaricações fúteis

Além do mais, dizei-me como é teu Deus que te direi quem tu és.
O meu Deus quer abraçar o mundo, porque este mesmo mundo sente fome!
E é por isso que não tem tempo pra sentir medo.

Olhar Acústico

__________________________
Da série: Nosso Ciclo Básico
__________________________


Ela me disse, simples assim.
É o que todo garoto sonha ouvir
Mas não tem sequer coragem pra dizer.
Ela teve, ela tem.

Ela o fez com a calma e beleza que só ela é dona
Ali sentada, olhando nos meus olhos...
Colocou da boca pra fora o que nasceu no coração

Disse sem esperar nada em troca(?)
Eu é que não pude encara-la nos olhos
Não sou digno e nem mereço aquele encanto!

Sim, ela foi sincera em pular de cima do muro
Eu não pulei: eu tenho medo do chão.
Aqui de cima eu vejo mais, sonho mais...
Sofro mais...
E vivo menos.

O que eu não pude dizer, talvez nem saiba.
O que sei é apenas o sentir...
Sentir e calar.
E calar.
E calar.

Digo e me contradigo

_______________________________________
Da série: E o amanhã?
_______________________________________



Me delicio na angústia do mal-estar só
Por caminhos alternativos e formas não-burocráticos de existir.
É desesperadora essa liberdade integral que me cerca
Mas assento o pensamento, e deixo fluir.

Autonomia, auto-suficiência ou um automóvel?
Depender de algo nunca foi de bom grado.
Ser solto, uma peça descolada desse todo tão pequeno
Embriagado na ilusão de que é impossível viver só.

Eu desmitifico o óbvio e ponho a culpa na inocência,
Dada a solidez da duvida e a certeza líquida da verdade
Dissolvida em interesses mesquinhos de terceiros que chegaram primeiro.

Então, solidifico a solidão póvoa dentro de mim.
Quebro a barreira mental quando profano a castidade
E mantenho puro meus pensamentos heráldicos e inoportunos.

Serei refém da contradição, da liberdade e da solidão.

Até que o tempo interfira.
Até que chegue o verão.

Bem Vinda

___________________________
Da série: Músicas para o meu bem
___________________________


Aiai, olha só.
Aiai...

Pois bem
Então ficamos assim
Juntinhos? Aiai...

Meu bem
Todo tempo do mundo
Não é em vão, aiai...

Sei bem
O sentimento nosso
Saudade, aiai...

Veja bem
De que vale a diferença?
É paixão! Aiai...

Pois bem, neném
Não é de todo mal bem me quer
Não é de todo bem solidão
Aiai...

E eu bem sei
Faz tempo, veja bem
Que eu te quero
Meu bem

Sonho Médio(cre)

________________________________________________
Da série: "Mentalidade de plástico e uma imagem a zelar"
_______________________________________________

Preciso de um bom emprego
Onde eu seja reconhecido pelo que faço e me orgulhe disso.
Preciso de boas roupas
Que me deixem com uma aparência sociável quando as uso.
Preciso de um carro veloz
Para nunca mais me atrasar ou passar despercebido.

E preciso ser sincero comigo...

Preciso de muitos amigos
Para nunca mais me sentir sozinho e desprezado.
Preciso de uma linda mulher
Que saiba cozinhar e tratar bem dos meus três filhos.
Preciso que um desses filhos seja adotado
Para cumprir meu papel enquanto cidadão.

E preciso ser sincero comigo...

Preciso de uma casa grande
Onde caibam todos meus sonhos e os meus desejos.
Preciso não me perder por aí
Mantendo os pés no chão e tendo algo em que acreditar.

E preciso ser sincero comigo...

Fazendo de mim o que as pessoas querem que eu seja.
Mesmo que seja apenas por aparência.

Conversa em conserva

___________________________
Da série: O Verão Logo Chega
___________________________




Hey garoto, aonde vai com essa pressa?
Porque essa ânsia pelo tempo?
Ele caminha, anda, e não corre nunca não.
E você ai, invertendo a direção
Senta e espera, pois agente logo muda.

Talvez eu me apresse um pouco
Mas é pra chegar antes, e em primeiro.
Garantir meu lugar ali, ao sol...
Pra sentir algo de bom no verão
Calor, é o que mais espero.

Que vontade boba é essa?
Nem tudo se resolve com o calor do verão
O sol arde, queima a pele, machuca.
A chuva é caos, horror, destruição
Inunda a ordem, afoga tudo que é razão.

Não é vontade não, é desejo!
É o tal do sentimento, conhece?
É a vida gritando por espaço e atenção
Coração com pé na porta do peito
Sonho, saudade, verdade, beleza, ela.

Que tal aprender sobre a vida?
Sobre o mundo real, trabalho, dinheiro.
Sobre a maldade insípida nas pessoas.
Sobre a feiura do divórcio, separação!
Sobre a solidão, porque não?

E porque não sobre a inocência?
Sobre indecência, felicidade, paixão.
Sobre o verão, sim! Porque não?!
É calor, é sol. Chuva vem pra refrescar.
Se inunda, é só a ordem, pode levar.
E quem agente gosta, devemos conservar.

Nem tudo é tão fácil, meu jovem
Um dia você aprende...

Nem tudo é impossível, meu velho
Isso eu te provo!
Mas espera o verão chegar...

Réquiem

__________________________________
Da Série: O Verão logo chega
__________________________________


Voltarei só por um instante
Quero me lembrar
É esse o nosso tempo?
Ressuscitarei toda uma noite viva
Nessa minha alma morta pela saudade
Tornarei belo e simples o andar

Em um extenso caminho.
O nosso caminho.

Daquela noite trarei teu sorriso
Pra que não te perca por ai
Sozinha, em luto.
Quero-te no presente, não só no passado.
Se for pra te perder, perca-te em mim
Sorrindo e sussurrando baixinho

Em um eterno momento
O nosso momento


Ontem vale mais que o agora
Vale meu sonho, vale toda uma vida...
Mas não se deixe por lá ficar
Pois foi no teu canto que me confortei.
Contarei a todos os amantes
E será pelo desejo que farão todas as noites

Em um mesmo lugar
O nosso lugar.

Copo de leite e colo de mãe

________________________________________
Da Série: Peter Pan Barbudo
________________________________________


Há remédio para tudo nessa vida
E nem sempre é preciso se drogar por ai ...
Nem sempre!

E eu que pensei que a idade me livraria de certas doenças
Quanta bobagem, não?!
Foi justamente o tempo que me provou o contrário

De agudas, elas se tornam crônicas e ainda mais recorrentes
Oscilando em picos de alta e altíssima concentração
E nunca, mas nunca mesmo, elas saram de vez.

Tanto acostumei a ser enfermo, que aprendi a gostar.
E lá vou eu me entorpecer mais uma vez...

Fui.

Semana sem doce!

___________________________________________________________________
Da Série: "As lágrimas secam com o vento, mas a tinta eterniza nosso sofrimento"
___________________________________________________________________


(Sonhos e suspiros!)

Eram doces aquelas segundas...
Nas freiras, mesmo que chegasse primeiro,
Por ultimo me ia...
Mas ia.

Pois bem, fui.
E de todo sorria...

Debruçava-me na mesa,
Corpo solto na caldeira e
Muito açúcar pra melar.

(Sonhos e suspiros!)

Eram doces aquelas segundas...
Nas terceiras eu ficava.
A diabetes me perseguia e
Questionava meu paladar.

Então suspirava,
De tão bem queria,
Que até o ar dos pulmões eu perdia
Me sufocando com aspartame
ao lacrimejar.

(Sonhos e suspiros!)

Eram doces aquelas segundas...
Em todas as nossas quartas de finais de tarde a sós,
Porém juntos.

(Sonhos, suspiros e beijinhos!)

Eram doces os nossos segundos...
De freira, consenti seu doce,
Seus beijinhos e seus quadriláteros,
Que dançavam embalados pelo corpo social em nós,
E recheados de sacarose.

Enfim, que sonhei e suspirei!

E de tanto que fiquei adocicado,
Se o tempo me voltar salgado,
Semana que vem, eu juro que saro
Com o bis do seu carinho, meu bem
Pois por ti, sou apaixonado.

Poucas vias, muitos lugares...

________________________________________________

Da série: "Salada de idéias e bife de realidade"

________________________________________________


A mão que me agride é a mesma mão que um dia me agradou com carinhos.
A mão que me prende é a mesma mão que um dia me libertou das grades.
A mão que me empurra é a mesma mão que um dia me puxou para perto.
A mão que me questiona é a mesma mão que um dia sanou todas minha dúvidas.
A mão que me oprime é a mesma mão que um dia tanto me alegrou com sorrisos.
A mão que me incobre é a mesma mão que um dia evidênciou o que sou.
A mão que me machuca é a mesma mão que um dia me consolou por bondade.
A mão que me despeja é a mesma mão que um dia me serviu como abrigo.
A mão que me mata é a mesma mão que um dia me salvou de mim mesmo...

Então porque preocupar-me por qual via eu seguirei?
Se o céu não é mais o limite, o inferno também não deve ser um castigo.
Se um dia tudo isso foi o nada, talvez hoje só isso aqui é que seja o tudo.

Esse sim é meu meio por inteiro:
Troca de canecas, cerveja de companheira, minha jaqueta de mármore e minha cadeira de veludo...
Conversa pra gente grande
Papo de surdo e mudo.

Ê vida... Vai seguindo que eu já vou indo...
Talvez um dia eu saio da contra-mão.

Des Envolvimento

________________________
Coleção: Qual é o Assunto Mesmo?
________________________



Não se faz mais filhos como os de antigamente, muito menos os pais como os de antes. Muita coisa não é como era, e muita coisa agora é como não era antigamente. As músicas não são como as de antes. Nem os gostos, nem os ideais e nem as idéias trocadas na mesa do bar no fim de semana. As roupas das pessoas encurtaram, diminuiram de tamanho, assim como os cabelos e os pelos de todo o corpo. A esposa já não cuida mais de casa, agora é a Dona Gertrudes da rua de baixo que faz este serviço em troco de alguns trocados.

Os empregados das empresas, não manipulam mais as peças, agora são as maquinas que fazem isso por eles, só que em troca de nada ao contrario da Dona Gertrudes da rua de baixo. Não fazem mais compras para suprir as necessidades como antes, agora gastam o que não tem e pagam só no final do mês. Raramente por necessidade, muitas vezes só por desejo e até para manter as aparências. Aparência esta, que segundo ditado popular, engana. Não a mim.

Antigamente tomavam café-da-tarde com toda a familia reunida em torno da mesa, hoje comem um hot-dog as pressas para não perderem o onibus. Antes guardavam as fotos da familia com muito sentimento e carinho em um album antigo, hoje tiram fotos na frente do espelho e colocam na internet. Antes escreviam no diario, agora é blog. Antes faziam por amor, agora é por interesse. Antes era por diversão, agora é por vício. Antes eram os caras pintadas, agora não há nem caras.

É, realmente amo muito o passado e fecho os olhos para o novo, que segunda Elis Regina, sempre vem. Sempre vem mesmo, porém mais fútil, atraente, descartavél e comercializavel. Os velhos valores da sociedade estão caindo. Não se trata de conservadorismo e sim de um mínimo de noção do que faz sentido e do que não faz, se é que é pra ter sentido tudo isso. Tudo está mais desconexo, distante, perdido. E dizem por ai que se trata de liberdade, evolução, desenvolvimento...

Daqui de cima vejo apenas pessoas rodando em círculos cada vez menores, cada vez mais se fechando... e que logo estarão girando em torno de si mesmas e formando uma espécie de buraco negro que as levara pro nada. E esta é a tal da liberdade que cada uma delas busca a todo custo. Infames. Não conhecem os verdadeiros prazeres da vida. Envolvam-se, antes que seja tarde.

São os Fantasmas do Passado

.........................................................
Da Série: Pode Ser Que Sim , Mas Também Pode Ser Que Não.
..........................................................


Naquele momento tive muita coragem, se é que se pode chamar desta forma tal atitude. Não hesitei como as outras tantas vezes, apesar das duvidas latentes em minha cabeça. Meu medo e insegurança eram expressos fisicamente através do meu palavreado tremulo ainda mais que minhas mãos, que por sinal também suavam frio assim como todo o meu corpo.

Talvez este frio que sentia, fosse produto da ação de um coração ainda mais frio que se apossava de todo o meu corpo diante a situação. Poucas palavras foram ditas. Em muito pouco tempo, o espaço tomou conta da minha vida. Em questão de segundos me vi entregue a ‘liberdade’ que tanto almejava e que hoje me assola.

Mas afinal o que poderia ser feito?Tantas mentiras já tinham sido ditas, tantos fatos ocultados...

Era o que restava a se fazer. Era a melhor resposta que eu podia dar para um mundo que tentava me acorrentar numa poltrona macia de tecido vermelho parecido com veludo, todas as noites para uma lavagem cerebral gradual.
Assusta-me a vontade de gritar que tudo isso poderia ter sido diferente. Não se trata de dor reprimida ou de rancor guardado, pois não tenho motivos para isso. O que machuca é ver a rápida adequação e como as personagens de algumas histórias podem ser facilmente trocadas sem que aja alteração no roteiro. Isso sim realmente me assusta e me irrita muito.

Por enquanto sofro para me adequar. Sofro por lembrar e sofro por sonhar todas as noites. O vazio continua. O frio do meu coração parece ter congelado toda minha vida e todos os meus sentimentos. Meu egoísmo destrói a mim mesmo, e ainda á todas as possibilidades de me esquentar com uma fagulha de fogo em meio a esse inferno que é a vida sem sentido algum.

Se me lembro bem, na poltrona vermelha de veludo tinha alguém segurando a minha mão. Hoje não tem ninguém.

Hey, mafren! Também não sinto nada!

........................................................

Da série: Pode Ser Que Sim, Mas Também Pode Ser Que Sim.

.......................................................


Não sei ao certo o que espera agindo assim
Mas sei bem o que não precisa esperar
Sou frio e inconstante
Talvez haja um psicopata em mim

O bom é que isso você já percebeu
Não tenho sentimento por ninguem
Tanto faz se é o nascer do sol
Ou se é a morte de um rapaz de bem

Não sou mais simpático
Muito menos anti-social
Agora eu passo é despercebido
Não quero que me julguem mal

Sou estranho e estressado
Mais nunca estou preocupado
Observo,vejo olhares maldosos
e ouço palavras que voce nunca vai ouvir

E acredite,me odeio por se assim
Me odeio por não odiar ninguem além de mim
E odeio não amar ninguem
Além da idéia de me ter só pra mim

Talvez haja algo mesmo entre agente
Que nos afasta a cada dia
Chame-o de como você quiser
Eu o chamo de tempo.

Querer (mesmo que seja tudo e ao mesmo tempo!).

Não me surpreende mais os meus complexos, repentinos e um tanto estranhos desejos. Querer isso, querer aquilo assim e assado. Desejos são apenas desejos, e que as vezes nem condiz com uma eventual concretização ou realização. Mas os meus desejos estão sempre ali coexistindo de certa forma na minha mente e me influenciando no mundo real por mais tosco, idiota e momentâneo que ele seja.

Tudo que faço no meu dia a dia é em consequência destes desejos. Não os forço, são naturais. Não os recrimino, são inocentes. Não me culpo, eles se formam inconscientemente em minha cabeça.

Sua inconveniência muitas vezes me compromete. Fico pensando como seria bom se agisse por si só, se agisse pelo correto sem influência interna de meus escrotos estímulos. Talvez faria mais sentido todo o contexto da história e eu ainda teria um caminho traçado a seguir. Eu não deitaria toda noite perplexo pelo o que aconteceu neste dia e pensativo pelo o que pode vir a acontecer amanhã.

Desejos vão e vem e bagunçam minha vida. Ora eles acertam, ora eles erram feio, e quando erram, preciso de muitos outros para concertar a falha do anterior, além de muita sorte para combina-los e explora-los na hora certa.

Não vou mentir: alguns se sobressaem sobre outros. Já desejei ter, desejei fugir, me esconder, enganar. Desejei falar, beijar,abraçar. Desejei ter medo, ser lucido, careta e viajante. Já desejei essa , aquela, ela, ele, esse e aquele. O bem e o mal. Ser o chato e o legal. Desejei fúria, sossego e sucesso. Desejei a morte, a vida, a esperança , a decência, a indecência e até a decadência.

Quando era pra respeitar eu desejei tirar um barato. Quando era pra apagar desejei acender mais um. Quando era pra dormir eu desejei virar a noite. Quando era pra ficar só eu desejei companhia. Quando era pra trabalhar eu desejei ficar a toa. Quando era pra ter uma desejei ter várias. Quando era pra amar eu desejei a solidão. Quando era pra enxergar eu desejei fechar os olhos. Quando era pra ver o sol desejei olhar pra lua. Quando era pra desejar eu desejei não desejar, e o fiz com vontade e como poucas as vezes, com muita sabedoria e conciência.

Então desejei tirar a areia dos olhos e dizer: Eu desejo deseja-la, e assim se fez.
É assim hoje, e quem sabe amanhã. Talvez não devesse desejar os meus desejos. Talvez devesse apenas desejar como de costume, viver em prol disso e nada mais.

Dezoito Carnavais Mais Tarde

______________________________________________

Da série: "O que é mesmo que se passa?"
______________________________________________


Trago um novo sonho,um novo passado, um novo progresso
Novos arrependimentos, e um novo sucesso.
Trago novas ciências , novas tecnologias e também velhas viagens
Com novos pedidos e novas bagagens
Com pensamentos positivos ,alegria e felicidade
E ainda o que há de mais raro na humanidade: a simplicidade.

Trago também o amor
O mesmo amor que trás a saudade , que trás a dor
E só aumenta aquilo que é belo de verdade
Na real impossibiliade de disfarçar realidade
Que engana e machuca a mente, alterada, que segue em frente
Mesmo que ausente , ela não se arrepende e ainda pulsa.
Ainda pulsa e ainda busca achar o que ainda não perdeu
Porque nunca teve, nem nunca viu, nunca sentiu
E nem nunca almejou, e agora cai de joelhos diante da mais bela flor.

Trago a morte, a seca , o nascimento e o asfalto.
Mesmo que fraca, trago também a luz
Que espanta todo o caos e a má fé que habita a escuridão
Da inútil forma de vida de um frágil coração, em pedaços pelo chão
Que humildimente implora pelo perdão.

Pra falar a real, o que trago mesmo , é o mundo de verdade
Castigado pelo exesso de vaidade que reluz a mediocridade
Implatada na sociedade antes mesmo, da igualdade.